Solidão e saudade

sexta-feira, dezembro 24, 2004

De repente, eu me senti tão sozinha... há tempos eu vinha pensando em Belém, recolhendo fotos pela internet, tentando ligar para long-time-no-see-friends... banzo tá forte! Eu preciso voltar, preciso passar lá... preciso recuperar meu sotaque, preciso ver minha terra... ver como seria se eu nunca tivesse saído de lá... talvez do jeito que eu sempre imaginei? Talvez mais bobo... tudo parecia tão mágico! Quando eu crescer, eu vou usar a bata do Convênio, ah! o pátio cinza (ou era azul?), vou estudar na sala de L.A. e depois vou fazer UFPA... sempre sonhei tanto com aquela universidade! O Rio, as pontes, as passarelas, os tijolos vermelhos, o R.U., o clima livre de u-ni-ver-si-da-de, penso nisso sendo dito com a boca cheia... eu me imaginava tocando piano, e talvez acontecesse isso mesmo, eu estava encaminhada para isso... as chuvas de fim de tarde, as briguinhas bobas apenas por antipatia, o senso de humor menos ácido, as roupas mais leves...

Eu ligaria para a Gabi e a gente sairia. Eu provavelmente não ia ter um carro só meu, mas ainda assim seria mais fácil eu pegar o carro do que ela. Aí vinha uma noite de fofocas, notícias do dia (afinal, nós nos falaríamos todos os dias!) e informações sobre os garotos. Fixações por certos garotos, aquelas histórias que demooooram a começar e mais ainda a terminar. Eu morreria de ciúmes dos novos amigos dela e reprovaria os namorados... ou talvez não. A gente reclamaria dos irmãos mais velhos, como no 1o grau, e passaríamos um bom tempo tentando entender a cabeça uma da outra. E não é que a gente conseguiria? Frases desconexas fariam sentido, e olhares explicariam coisas que nem nós sabíamos que estavam lá...

Eu saberia como é, realmente, uma amizade. Uma amizade antiga, gostosa, que não precisa de palavras, pois já tem o tempo a seu favor. Percebo hoje que minha adolescência em Brasília me tirou muitas coisas, entre elas, minha noção de amizade. Sempre senti muito a frieza dos brasilienses, mas percebi que nunca mais me doei tanto para uma amizade quanto eu fazia em Belém. Sim, eu era mais nova - bem mais nova. Inocente... "friendship never ends", eu acreditava piamente. Lembro de como fiquei indignada - sim, essa é a palavra - quando minha mãe disse que, às vezes, amizades acabam... não, elas não podiam acabar! Não a minha amizade com a Gabi! E hoje falo, não a minha amizade com o Gabriel e o Will... elas não podem acabar...

Interrompidas... isso me dói muito... se tudo corresse do jeito "natural", se eu não tivesse vindo para cá... eu não seria eu, seria outra pessoa completamente diferente... talvez pior que hoje... é, foi bem melhor assim. Mas hoje me peguei pensando... se eu voltasse para lá... eu saberia como conduzir as nossas amizades? Eu deixaria elas vivas?

Lidar com a realidade é bem mais complicado que lidar com sonhos... se eu não consigo criar laços mais fortes aqui... por que lá seria diferente?

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