sexta-feira, outubro 29, 2004
Ela olhou o relógio. O ponteiro dos segundos, por um momento, pareceu demorar para se mexer. A casa estava silenciosa demais. Estaria anoitecendo ou amanhecendo? Ela saiu da rede ainda meio tonta de sono, tropeçou no tapete e foi em direção à cozinha. Catou algumas besteiras que eles tinham deixado em cima da mesa na noite anterior e levou para o computador. Será que ele está online? Não, não está. Passeou desinteressadamente por alguns flogs e logo deixou o computador e a comida. Andou pela casa, estaria sozinha? Não, deve ter gente dormindo por aí. Ela normalmente não se importaria em ficar sozinha, mas logo depois de acordar é diferente. A mente ainda está adormecida, e, de modo inverso, os sonhos estão vivos, lúcidos, como acontecimentos do dia passado. O que é real? A lógica nos engana, pois a verdadeira lógica só aparece quando trancamos e esquecemos esse lado mais amorfo de nossas mentes... lógica não existe, pureza não existe, assim como o pensamento frio e racional. Ela lembrava cada vez mais de seus sonhos, aquela sensação de quem ainda não acordou, de quem ainda está entre os mundos. Por isso ela tinha medo. Andar pela casa daquele jeito, aquele silêncio... Onde estariam os meninos? Já foram embora? Estariam dormindo? Aquele espelho no fim do corredor, por que colocaram um espelho lá? Ela passou com destreza pelo corredor, evitando olhar para o espelho. O que ele poderia refletir no mundo real? No mundo dos sonhos, ela não gostava de espelhos. Também não gostava de janelas. Ela tinha tido experiências perturbadoras, e ai de quem tirasse alguma graça com isso.
Ela passou rápido pelo espelho do corredor e entrou no seu quarto. A persiana estava fechada (que bom!). Ah, tinha gente dormindo ali. Não estava sozinha. Ela ficou mais aliviada. Quis deitar no lado vago da cama de casal, mas algo a chamou para o computador. Tinha lido em um horóscopo que sua intuição lhe pregaria peças nesse período pré-aniversário. Desde quando ela acreditava em horóscopo? Decidiu que pensaria sobre isso depois. Sempre adiando, sim. Resolveu ignorar a previsão e ir para o computador. Saiu do quarto, olhou para o espelho ligeiramente, o desafiando: é, apenas o reflexo dela. Entrou no quarto do computador. Viu um bando de formigas e percebeu que tinha esquecido a comida por lá. Antes de limpar a bagunça, mexeu o mouse. A tela foi tomando suas cores e formas tão microsoftianas. Ah! Ele estava online. Mandou automaticamente uma mensagem.
- Olá! Que surpresa te ver por aqui...
1 comentários:
Nossa, adoro qd eu leio essas coisas com q eu me identifique ate nos detalhes :D Se bem q eu acho q os contextos sao distintos, mas, do jeito q vc escreveu, meio q da pra qq um se adequar na historia...
Alias, eu acho q horoscopos sao exatamente isso: textos com algumas coisas vagas, assim, todo mundo s coloca ali. Mas eles fazem isso de modo proposital, logico :p
:*****
Postar um comentário