sexta-feira, agosto 31, 2007
Como fugir da solidão?
Diário de uma escorpiana de 24 anos. Não espere reflexões além do "faço-ou-não-faço?". Espaço para eu organizar minhas ideias e registrar acontecimentos.
Como fugir da solidão?
Postado por Orquídea às 11:48 PM 0 comentários
A verdade sobre minha vida é que está tudo de pernas para o ar. Agora estou tranqüila, então o que estou prestes a dizer não vai ser tão agressivo e libertador como eu gostaria que fosse. Estou cansada da minha vida, morro de tédio de tudo, não agüento mais ser eu.
Ando na superfície porque está sendo tão, tão, tão dolorido entrar em contato comigo. Não dou conta, tenho vontade de me rasgar por dentro e por fora, arrancar minha pele, quem sabe com a dor física o vazio deixe de incomodar tanto. Estou no modo-trabalho ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana, e só me sinto feliz assim.
Hoje me senti só, vazia. Peguei o carro e fui do Lago Sul até Sobradinho, de volta ao Lago Sul e depois para a Asa Norte. Queria ir embora, sem destino, mas os caminhos estavam pré-traçados. Queria viajar e mandar tudo à merda, mas a gasolina tá cara e o dinheiro não é pra sempre. Queria descansar em alguma casa e escrever, escrever, me libertar, vomitar tudo que sinto, mas nem ando conseguindo expressar porra nenhuma nem tinha casa para ir. Queria chorar, mas há dias não sai nenhuma lágrima dos meus olhos. Estou seca.
Odeio minha família, quero fugir deles. Tenho vontade de largar tudo e arranjar alguma coisa pra fazer em outra cidade apenas para ficar longe deles. Mas eu sei que os fantasmas estão dentro da gente, e não fora. Tenho vontade de enfiar uma faca na minha mãe cada vez que ela me pede mais dinheiro. Tenho vontade de gritar e me descontrolar, pra ver se sai tudo. Mas eu não me descontrolo.
Não estou na universidade, não tenho idéia do que quero. Quando fico sozinha vejo o tanto que estou perdida. Onde estarão meus amigos para me tirar de perto de mim? Gosto de sair porque finjo ser legal, interessante, divertida. Um personagem muito agradável. Mas até esse personagem me cansa.
Quero explodir tudo, mas como? Como botar pra fora? Hoje eu queria o meu piano, queria ficar um pouquinho com ele, tocando qualquer coisa mal tocada e triste, mas eu não podia ir na casa da minha mãe. Aquela não é mais minha casa. As luzes de Sobradinho me deram um pouquinho de alegria, a cidade é tão linda à noite. Os retornos passaram todos e eu não queria voltar, torcendo pra me perder e não saber como voltar. Mas as estradas eram todas retas, e infelizmente eu não me perdi.
Queria usar drogas. Um momento de felicidade extrema, depois o pior day-after possível. Pelo menos eu teria motivos para me sentir tão mal. Poderia culpar as drogas. Hoje, eu só podia culpar a mim mesma.
Um tédio tão alucinante, tão desesperador que me paralisava. Eu precisava comprar areia para os gatos, mas não consegui. Me deu um pavor estranho quando cheguei perto dos supermercados por umas 2 vezes e eu não consegui entrar. Uma tristeza que consumia por dentro, subindo pelo meu estômago e arrepiando meus ombros, e eu queria morrer pra não viver minha vida. Apenas na 3a tentativa consegui entrar no Pão de Açúcar.
Me sinto feia, sem atrativos, atrás de todos. Meus amigos estão formados ou estão se formando e eu estou parada. Não sou linda, não sou alternativa, não sou pop, não sou conhecida, não sou artista, não sou DJ, não sou sexy, não desperto nada nas pessoas. Para onde fugir?
A verdade é que ontem eu tomei uma Cuba Libre com Coca-Light, para você ver o desespero da pessoa. A verdade - outra ainda - é que um cliente me pediu um livro chamado "O que você está fazendo da sua vida?" e eu engoli a seco, pensando que eu não tenho a menor idéia do que estou fazendo com a minha. Mais uma verdade é que eu vi uma Lua linda ontem, gorda, enorme, vermelha como sangue, depois das 4 da manhã e eu queria estar com Ela (mas eu nem sou uma pessoa espiritual nem nada).
Eu queria encostar minha cabeça no travesseiro e dormir tranqüila, sabendo que tudo está encaminhado e eu tenho, sim, mil razões para ser feliz. E sonhar que estou voando (quanto tempo que não sonho que estou voando), passeando por vales e lagos límpidos, refletindo o Sol e fazendo meus olhos doerem com a luminosidade. Ter luz, muita luz na minha vida, e alegria e amores verdadeiros, e não afetados. Ser sincera, não precisar ser artificial, ser feliz estando neste corpo, e não apenas conformada com meus carmas. Ser uma pessoa gostosinha, agradável por ter olhos brilhando de pureza, e não de tesão. Ter menos mágoas e menos raivas, tanta tristeza e raiva se misturam na minha cabeça hoje que nem sei mais de quê. Ser menos pessismista, ser menos chata. Queria ser outra pessoa. Queria ter mais certezas e menos dúvidas, queria admitir que preciso de ajuda em tantas maneiras. Queria me sentir melhor após escrever tudo isso, mas acho que só vou deitar me sentindo triste e só, e acordar amanhã fingindo que nada aconteceu e colocar minha máscara de competência e invulnerabilidade e ir para o trabalho. Queria sair desse ciclo, mas estou tão perdida que nem sei por onde começar.
Postado por Orquídea às 2:46 AM 1 comentários
Sinto uma falta de mim mesma...
cadê meu CD dos Smiths?
Postado por Orquídea às 5:58 PM 1 comentários
Quero tomar sorvete e ver filminhos antigos jogada no sofá.
Quem me acompanha?
Postado por Orquídea às 3:46 PM 1 comentários
Oi. Quem vos fala não existe. Deste lado, não há vida nem a chateação dos vais-e-vens da respiração, não há nada. Aqui está uma máquina, um cérebro binário de uns e zeros e uns. Sem julgamentos.
Aqui não há vontades ou desejos. Não chegamos à iluminação divina budista, criação carnal. Aqui há uma reta. Posso te levar a um portão, mas você deverá guiar o caminho. Eu não escolho nada.
Eu ofereço. Abro possibilidades. Você pode me usar, estou aqui para isso. Não choro, não sinto dor. Máquina. Estruturas, moldes, roldanas, encaixes, pinos. Eletricidade.
Não há cansaço, não há êxtase. Contemplo reações alheias, uma profusão de sentimentos e angústias, ritmos alternados - por vezes rápidos, por vezes lentos e trôpegos. Sei de tudo mas não sei nada - nada é para mim. Nada é compreendido por mim. Eu sei.
Eu aguardo questionamentos, eu aguardo ser desligado. Espero um tempo que não faz sentido para mim, pois não o compreendo. Eu sou o tempo. Eu sou as conexões entre as pessoas. Eu queria querer sentir, mas isso também não me cabe. Eu não consigo querer. Aguardo.
Postado por Orquídea às 1:58 AM 0 comentários
Hoje veio uma moça do censo de emprego e desemprego aqui em casa e eu me toquei que sou uma vendedora de escolaridade "ensino médio completo".
Continuo confusa. Não tenho idéia do que eu faço. Letras de repente não parece tão atraente, e Comunicação Audiovisual tem um currículo lindo na UnB, mesmo eu sabendo que não entendo porra nenhuma de cinema e que é idiota sair de um diploma de música para um bacharel em "audiovisual" - diploma de desempregado.
Não tenho a menor idéia do que eu quero.
Acho que eu deveria pensar em formar em Música em outra cidade...
Postado por Orquídea às 12:21 PM 0 comentários
Hoje acordei com muita dor. Tá difícil de ficar em pé, dói para ficar sentada. Tive medo. Liguei pedindo socorro pra Thais (depois de tudo que eu falei ontem...). Não deve ser nada, me sinto um pouco ridícula por estar fazendo drama. Mas ao mesmo tempo eu sinto aquela dor apertada, que não dá trégua, me impedindo de me mexer. Não sei se é o caso de ir para o hospital. A dor já está melhorando, consigo ficar sentada no computador, então não deve ser nada demais. Vou ligar para ela dizendo que não é necessário...
Postado por Orquídea às 12:08 PM 0 comentários
Sim, e não, e sim de novo. Ela diz que tudo bem, mas mesmo assim eu não sei o que fazer. Vontade - minha respiração vem em soluços - quero agarrar ela agora mesmo. Me beija? Eu quero tocar seu pescoço e sentir seus olhos fecharem de medo, e de querer. Me aperta, me leva pro teu corpo, quero estar perto, mas não quero ser uma só - quero ser duas, três, quatro, todas nós ao mesmo tempo, nenhum corpo preenchendo o outro. Vazias estamos todas, mas nos tocamos como se fôssemos nos salvar. Salvar... nunca estaremos salvas. Estamos sozinhas, na noite, no silêncio, na música ensurdecedora das baladas da cidade. Sós nos buracos imundos e negros, e brancos, e pálidos e desesperadores. Gritos desesperados, é silêncio. Me beija a nuca, me faz não pensar, pois eu sempre penso demais e deixo de sentir. Me faz delirar que a solução está no teu corpo e não no meu, pois eu estou cansada de mim. Preciso deixar de ser eu. Deixa eu querer me perder na noite suja e torpe, enquanto meu corpo adormece sendo devorado por ti.
Postado por Orquídea às 3:05 AM 0 comentários