Cheguei hoje da viagem à Belém. Reencontrei amigos, conheci pessoas interessantes, fui a lugares que eu não conhecia, enfim, tirei uma boa semana de férias. Nem tudo foi perfeito, mas a gente sempre deve olhar o lado bom das coisas, não? E o Carnaval teve tanta coisa boa que seria ingratidão minha pensar só na parte ruim. Tenho muita coisa para contar, e penso que talvez não seja tanta coisa assim... o que importa é que eu estou muito feliz, e essa sensação talvez me faça pensar que muita coisa aconteceu. Como diria Morrissey... "in my heart it was so real"... e para mim é. Estou contente, muito contente, e recarregada. Talvez eu nem fique alegre por tanto tempo, até porque eu sei que, pelo fato de a viagem ter sido tão boa, eu vou ficar triste de Brasília não ser do mesmo jeito... (por Brasília entenda-se cidade, pessoas, lugares.) Bom... talvez eu esteja procurando nos lugares errados, não? Ou talvez eu esteja procurando algo específico demais, sem perceber que vários outros "algos" me trariam alegria também. Nossa, isso ficou muito abstrato, será que quando eu reler isso eu irei lembrar do que eu estou pensando agora?... é sobre pessoas, sobre tipo de pessoas, interesses em comum e modos de ver a vida. Eu achei tanta gente parecida comigo em Belém, ou, se não parecida, interessante. Não vejo isso em Brasília, ainda tenho a mesma dificuldade dos outros anos... é, acho que eu deveria ser mais mente aberta e aceitar mais pessoas que não se encaixam no meu padrão de "perfeição", sei lá, nem é isso, mas pra eu não achar é porque eu estou procurando algo que não existe, e deve ser meu ideal de perfeição. Bom, estou procurando nos lugares errados, descartando cedo demais, ou simplesmente não estou vendo. Hehe, visão otimista pra mim essa... ou mais auto-crítica. Tentarei descartar a opção infantil do "não há pessoas assim em Brasília", por favor, já chega de culpar os outros por incompetência própria - ou, no meu caso, culpar a cidade. (Isso não quer dizer que eu goste de Brasília... só estou tentando mostrar para mim mesma que, racionalmente, não há razão de eu não achar gente interessante aqui, até porque isso aqui reúne gente de todo o Brasil, e gente de todas os jeitos.)
Bom, deixando tudo isso de lado, não devo resumir a viagem, não agora. Vou é postar um poema que li em Belém e amei, do Pablo Neruda. Na verdade, eu me apaixonei por vários sonetos dele... devo postar um a um os meus favoritos por alguns dias. Aí vai o primeiro que me apeteceu:
Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado,
lança das dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de repente, entre as folhas frias de meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
Que flor, que pedra, que fumaça, mostraram minha morada?
O certo é que tremeu a noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas e espinhos
abriu no coração um caminho queimante.