sexta-feira, junho 27, 2008
Hoje, dirigindo de noite pela cidade, reparei no letreiro iluminado do Hotel das Américas. "Foi lá que tudo começou", pensei. Eu abria a cortina e via as letras pichadas no viaduto lá embaixo: FORA FHC, ou fora quem estivesse no poder. Eu me sentia só e estranhamente no meio de tudo: todas as grandes decisões do país aconteciam por ali, a minha volta, e eu estava trancada num quarto escuro de hotel com as cortinas sempre fechadas.
Na escola, ninguém parecia perceber que estava em Brasília. As meninas eram ricas, muito ricas, e eu não lembro do que elas falvam, mas lembro que eu não gostava. Elas chamavam os goianos de peões enquanto usavam cintos com fivelas enormes de caubói - será que elas acreditavam que aquela era a moda em todas as metrópoles? O uniforme básico eram as joiazinhas delicadas de ouro, o cabelo comprido e alisado loiro, a calça jeans, a blusa branca e um salto de mau gosto ou uma bota. Eu nunca consegui ficar bem desse jeito.
Depois da escola, muitas vezes eu passava no gabinete de meu pai. Lembro bem daquele cheiro da Câmara, de repartição pública com limpeza com carpete com ar condicionado com papel quente saindo da xerox. A rádio sempre com alguém discursando - quem ouve todos aqueles discursos? As janelas enormes, que medo de atravessar o vidro e cair, sempre tive medo de altura e ficava feliz em saber que meu pai também tinha. Estacionamento lá embaixo, tudo parado e tranqüilo e tanta inquietude no meu coração.
Hoje não lembro muito bem das datas. Não sei quanto tempo fiquei naquele Hotel, quando vim de vez para Brasília, quantas vezes voltei para Belém. Mas lembro do frio que eu sentia com os eternos 18º, do banheiro azul do apartamento e dos móveis emprestados da Câmara, com a plaquinha de metal de patrimônio público. Lembro de tentar descobrir quem eu era, de andar pelas quadras da Asa Norte até descobrir novos lugares (ou até o correio) e da passagem do tempo: devagar, devagar, devagar.
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