sexta-feira, julho 08, 2005
NÃO ENTENDO
(Clarice Lispector)
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
2 comentários:
Curioso como alguém consegue descrever o funcionamento de metade da população mundial né? =)
Deixa de ser estraga-prazer! Eu gosto de pensar que só eu me sinto assim, e que ela escreveu isso *para mim*, apenas... hunf!
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