Saindo de casa

sábado, dezembro 23, 2006

To me sentindo como se estivesse fazendo tudo errado. "Como se estivesse" não, eu estou fazendo tudo errado. Mas eu estou cansada, e me sentindo tão, tão, tão despreparada pra lidar com tudo isso. Queria uma ajuda, um apoio, um direcionamento. Cadê meus pais nessa hora? Onde eles estiveram esse tempo todo? Não me sinto preparada pra fazer tudo sozinha, e cada vez mais as responsabilidades ficam maiores e eu aqui, perdida. Que droga. Por que os adultos não criam seus filhos para que eles saibam se virar sozinhos? Os meus adultos, pelo menos, não deram muita bola pra essa coisa de "criar cidadãos", ou "criar para a vida", essas frases bonitas. Na verdade, nem sei se deram muita bola pra esse papo de criar filhos...

Queria presença, apoio, conselhos. Dicas. "Faz assim", "faz assado", "desse jeito aqui funciona". Mas só tenho indiferença e tapas na cara.

Acho que já vou tarde...

Gatinhos

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Ontem os gatos assistiram pela primeira vez ao Karajan regendo a Filarmônica de Berlim nas Quatros Estações. Morreram de medo, tadinhos. Janus saiu correndo e se escondeu do outro lado do quarto logo nos aplausos do início. A Schala ficou curiosa, intrigadíssima: mas música não saía daquele outro aparelho? Esse passava só imagens e ruídos! Ela ficou assistindo um tempo, acho que chegou a ver o Verão inteirinho sentada na frente da TV. Uma graça.

De madrugada e de manhã, eles destruíram o quarto. Eu só ouvia os barulhos de papéis caindo no chão, gatos correndo alucinados pelo quarto, CDs derrubados. Até o anti-social do Janus resolveu encher meu saquinho e morder meus dedos do pé enquanto eu dormia. Resultado: cansaço absoluto, um quarto hiper bagunçado e crianças dormindo, quietinhas, agora à tarde. Eu mereço...

Resumo

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Dia tranqüilo, Natal chegando. Passeio com mãe, compras com mãe. Chateação com mãe - mas ela não percebeu, então tudo bem. Presente pra mãe. Gripe chata. Gatos na cama. É, no plural: Janus tá sociável. Muito sono de dia, nenhum sono agora à noite. Namorada fofa. Não-fome. Ensaio, apresentação amanhã. Ordem cronólogica de merda essa, hein? Enfim. Menina dorme na cama ao lado, eu no computador. Sem sono. Vontade de abraçar...

Sobre entrega

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Eu me entreguei, me doei. Arrisquei tudo: agora é hora. Eu sabia que gostava muito mais de ti do que aquilo que eu andava sentindo, mas morria de medo. Foda-se o medo, eu quero que ela saiba, pensei. E foi. Dei tudo que podia dar, é até ridículo falar isso, foi só uma noite - mas pra mim não foi só uma noite. Foi minha alma, meus sentimentos, meus medos, minhas emoções, meu coração, meu corpo, meus traumas e minhas vontades. Foi intenso, como era no começo, e como eu me esforcei tanto para esconder. Mas esconder tudo isso estava me matando e estava nos matando, então resolvi mostrar. Abri tudo. Te dei tudo. Fiquei vulnerável, e agora essa palavra me parece tão mais vulnerável do que me parecia antigamente, talvez porque hoje eu saiba os riscos dela. Mas quem liga para o tamanho da queda? Eu queria que soubesses. E explodi de um jeito que tu nunca tinhas visto, e não sei se vais ver algum dia de novo. Esses momentos costumam não voltar.

Hoje eu só queria ter certeza de que tinhas percebido. Queria que tu demonstrasses, "estou disposta". "Pode vir, eu te seguro". "Vai dar tudo certo", e "sim, vale a pena". Mas não foi isso que aconteceu.

Normalmente eu andaria a cidade inteira. Iria parar no eixão, ficaria dando voltas na cidade. Mas lembrar dos gatinhos me fez vir direto para casa.

Espero que você tenha uma boa noite.

Coisas enormes, fim de dia estranho

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Cansada, chateada, irritada... tudo tá ótimo, mas o fim do dia foi o erro. O que foi que aconteceu que eu não vi? Só sei que uma hora estávamos as duas no carro, sem se falar, o clima terrível. E nenhuma das duas estava errada, ou certa, e nenhuma das duas tinha por que pedir desculpas (droga de mania a minha de pensar se há certos e errados, o mundo não se divide nisso). E sei lá, uma droga.

A gente deveria estar comemorando, estourando champagne, fazendo amor. Se fofinhando, e sem gatos no meio (já teve gato demais hoje). E tá tudo esquisito.

Odeio quando não consigo conversar com ela pelo MSN. O assunto não vem, as frases não saem, e a conversa fica parada. E, mesmo quando ela fala, eu não sei o que dizer. Que merda, será que eu desaprendi a namorar?

Gosto dela, e o dia deveria terminar bem. Coisas enormes hoje, será que bateu o peso da responsabilidade? Vamos ser gente grande agora. E eu gosto da idéia de isso estar acontecendo com ela. E, mesmo quando a gente briga (ou seria especialmente quando isso acontece?), eu tenho certeza de que a gente se merece.

De volta!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Blog de volta.

Com 3 blogs pela internet, esse fica sendo o meu espaço pessoal e de Águeda "inteira". (Posso dizer que é um blog holístico?) Não só a lésbica, não só a agressiva, não só a apaixonada. Toda-Águeda.

Inclusive as coisas chatas que ninguém quer saber, como gatos e universidade. Mas quem se importa? Esse blog nunca quis ser pop.

Volta a ser um registro dos meus dias.

Blog parado.

sábado, setembro 16, 2006

Parado, não fechado.

Esse blog está em crise de identidade. Ando escrevendo mais para os outros dois (!) blogs e para o fotolog. Não sei o que colocar aqui, para ser honesta. Quando eu descobrir para que serve esse espaço preto-e-vermelho eu volto a postar.

Conto

terça-feira, agosto 08, 2006

Eu queria escrever um conto que flutuasse. Ele seria quase um sonho, e alcançaria as pessoas através do ar. E elas não entenderiam o que acontecia - a incômoda sensação de paz. O sorriso que não pede licença. As pessoas respirariam o conto, e devolveriam suas palavras com mais vida, a história cada vez mais rica de detalhes e de sonhos individuais. O conto seria expirado mais feliz, e assim passaria de pessoa para pessoa, cada uma se sentindo estranhamente bem e devolvendo ao mundo uma história mais completa.

E assim o dia transcorreria com mais naturalidade e com mais sol. Os cafés seriam tomados em xícaras grandes, gordas, ao som dos passarinhos. Os ônibus da cidade estariam limpos e - bem mais - coloridos. As mãos mais quentes, e os olhares mais brilhantes.

E ninguém perceberia mudança nenhuma, pois nada acontecera. Nada mudara nesse amanhecer, a paz não havia sido anunciada no mundo, e mesmo se tivesse, quem se importaria? Nada mudaria. Ah, mas meu conto mudaria as pessoas; entraria na alma delas e limparia a bagunça. As pessoas assoviariam e passariam a se importar com as outras. Elas chorariam quando sentissem vontade, e confiariam seus segredos às outras. Não, não! Não haveriam segredos. Apenas o mistério daquela súbita alegria, daquele sol tão esplendoroso, em uma manhã de terça-feira.

Preguiça/tédio/licenciatura

quinta-feira, julho 27, 2006

Tanto tempo que eu não tinha um período calmo para respirar que eu até tinha esquecido o tanto que eu posso ficar chata.

(E muitas vezes sem razão.)

Como diria Garfield: "há tédio até onde a vista alcança".

xxx

Férias (auto-decretadas) boas, preguiça pra sempre. Um semestre a mais, um a menos, que diferença faz, né? Se a gente tem que encarar a licenciatura mesmo, que ao menos seja em doses homeopáticas. Chega de sofrimento condensado em um só semestre. (também, didática + oeb + tim faz isso com as pessoas.)

Não agüento mais a cara da UnB!

Realidade, hoje.

segunda-feira, julho 24, 2006

Tive sonhos ruins hoje. Uma série de sensações voltaram. Rejeição, raiva, tristeza, medo, angústia, sofrimento. Dor. Aquele aperto no peito de novo, aquele desespero. A vontade de chorar que nunca passa. Acordei sem muita noção de tempo, de amores. A minha calma, que já durava algumas semanas, desapareceu. Tristeza, rejeição.

Olhei para o lado. Abracei forte minha Flor, vontade de pedir ajuda. Não me deixa sentir aquilo de novo, por favor, não quero. Promete que vai ser diferente... promete que você não vai me abandonar. Promete que não vai me trocar, me rejeitar, nem me tratar como algo vergonhoso. Promete que vai cuidar de mim, que vai dar tudo certo. Promete que me ama.

- Promete?

- Prometer o quê? - ela sorriu, doce.

Tantos pedidos, nenhum deles era possível. Nenhum "sim" seria verdadeiro - como controlar o futuro? Eu também não sabia o que eu queria que ela prometesse, só que dissesse sim. Promete que não vai doer, promete que você vai ser sincera, promete que eu vou poder confiar. Mas eu sabia que nenhuma resposta me acalmaria: que garantias eu teria com um "sim"? Nem eu sabia o que pedir.

Acabei falando algo parecido com o seguinte:

- Promete que você vai sempre ser minha amiga?

Ao que ela respondeu, sem demora:

- Sim, acima de tudo, sempre.

Vida boa...

domingo, julho 23, 2006

Eu não estou acostumada a uma vida tão boa e tranqüila.

(nem a momentos cinematográficos)

Como falar sobre pôr-do-sol, beira do lago, trilha sonora e fogos de artifício? Melhor não falar.

"...uma coisa que já está acontecendo?"

terça-feira, julho 18, 2006

E tem vezes que o processo pára.

Será que é medo de tentar?

Ou será que é, de modo inverso, o desejo que aconteça?

Só sei uma coisa: tudo acontece na hora errada, sempre. No mundo. Na vida.



(eu me saboto?)

gato.

sexta-feira, julho 14, 2006

Acho que a Nina tá grávida.

Não me sinto preparada pra ser avó...

Ensaio sobre a saudade.

sábado, julho 08, 2006

Não é o que será escrito agora. O "ensaio sobre a saudade" foi escrito ontem, durante uma conversa. Hoje ficam as lembranças, as sensações. Alguns argumentos. Frases de efeito.

"A saudade escraviza."
"Só existe saudade quando se postula que um certo período de tempo foi maravilhoso, perfeito, incrível e - o principal - insuperável."
"Você sente saudade de coisas, pessoas, eventos e lugares que não existem mais. Eles ficaram no passado. Você fala com a pessoa hoje mas não cria uma história nova; você acha que gosta dela e sente saudade dela, mas você sente saudade do que já foi, do que não é mais."

Relatos pessoais.

"Eu ia pra Belém e tudo estava diferente. Não era a minha cidade, aquela que eu tinha saudade. Eu não morava mais lá; eu não estudava mais lá. Meus amigos tinham que abrir espaço na agenda pra mim. Aquele lugar não me pertencia mais, ou eu não pertencia a ele, ou os dois. Mas quando eu voltava pra Brasília eu sabia que aqui também não era meu lugar. Vivia num limbo."

Conjecturas, medos.

"Se eu voltasse, não sei se minha 'melhor amiga' seria minha 'melhor amiga'. O tempo do relacionamento mudou, o timing. Não a conheço mais. Não sei o prato favorito dela, a cor favorita, a roupa que ela mais usa, o CD que ela está ouvindo, o lugar pra onde ela saiu fim de semana passado. Não sei se saiu, não sei com quem ela anda. Não sei se a amizade sucumbiria à presença. À falta da saudade."

Pensamentos que eu não externalizei.

"Tantas músicas hoje na rádio, todas me trazem ela. De um modo ou outro, ela está lá, em todas. Seja porque gostava, porque desgostava ou sei lá por que. E me deu uma saudade tão boa, e eu fiquei feliz com isso. Não trouxe dor, desespero ou angústia. Fiquei feliz ao ouvir, eu sorria lembrando de tudo. Saudades. A dita saudade boa. Mas será mesmo? A saudade engana. Escraviza. Nós nos acostumamos a ser reconfortados por ela e esse conforto nos prende. Não nos deixa seguir adiante. Ficamos presos a lembranças, e por melhor que seja a sensação, ela não te deixa viver o presente. Já tive muita saudade. Não quero ter de novo..."

O efeito da saudade.

"Parece que fica tudo cinza, não parece? O tempo não passa. Tudo é muito triste e dolorido, e só o pensamento no passado acalma. Já chorei tanto, tanto... e o pior é perceber que eu não chorei por uma pessoa, eu chorei por uma época que já foi. Por uma lembrança."

E mais reflexões sobre a saudade.

"Eu não tive saudade de tanta gente e tanta coisa que passou na minha vida. Talvez porque eu não acreditava que aquele tinha sido o melhor período da minha vida. Insuperável."
"Tão humano... e ao mesmo tempo não. É ridículo pensar que é humano sentir saudade. Não é. Mas a saudade é algo que te humaniza de alguma forma... te faz real."
"Existe a saudade boa e a saudade ruim. Mas será que as duas são tão diferentes assim? Talvez a linha seja muito tênue. Talvez seja só o tanto que você se deixa levar pela saudade."

E a pergunta que iniciou tudo.

"Você já sentiu muita saudade? Muita muita muita saudade mesmo?"

Caio Fernando Abreu, at last.

sexta-feira, junho 30, 2006

AQUELES DOIS
(História de aparente mediocridade e repressão)

Caio Fernando Abreu

A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.

Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.

Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.

Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.

II

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.

Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

III

Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.

Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.

Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.

IV

Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.

Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.

V

Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.

No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.

Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.

Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.

Circo

terça-feira, junho 27, 2006

É como estar em queda livre e saber que não tem nenhuma rede de segurança lá embaixo.



Sempre uma mistura de culpa, rejeição, decepção, descrença e falta de sentido...

Chocolate Quente

segunda-feira, junho 26, 2006

Fiz chocolate quente hoje!

Falta só o conhaque ou o rum chegarem.

"Quem sou eu?"

domingo, junho 25, 2006

"- Quem sou eu?
- Você é a Águeda.
- Isso não diz nada. Eu não sei quem eu sou. Em que eu acredito, o que eu penso."

"A coisa mais radical que alguém pode fazer com uma pessoa: mudar os valores dela."

"Você tem que começar a viver por você, e não pelos outros."

"Tem tanta culpa aqui dentro..."

"Hoje eu vou me cortar."

"É uma esquizofrenia de julgamentos aqui dentro. Não sei o que pensar, só sei que me sinto mal."

"Amanhã eu vou me arrepender. E depois de amanhã vou achar que fiz o melhor, e no outro dia vou me arrepender de novo."

"É um símbolo de força e poder, e você não tem cacife pra agüentar ele. Você chama os outros pra briga mostrando isso. E não agüenta."

"O efeito do álcool tá passando, preciso de mais."

"Vodca e açúcar, suicídio?"

"Há 3 dias eu não pensava nisso..."

"Eu sempre fodo tudo, e eu to cansada de agir mal com os outros. Já errei demais."

"Aquilo tudo não aconteceu, é ridículo. Ridículo."

"Por que eu me sinto tão Jenny?"

"Acho que estou louca, completamente... surtada, surtada. Quero chorar..."

"Cansei de me sentir um lixo."

"Cansei de fazer os outros sofrerem."

"Não senti nada. Nada, nada, nada."

"Sinto a tua falta."

"Queria o teu abraço agora."

"Me sinto meio alcoólatra, viciada mesmo."

"Taquicardia, o choro vinha do nada. Eu tremia no meio da aula, bizarro. Não conseguia controlar. Queria a voz dela..."

"Acho que estou ficando louca. Preciso de um médico... um psiquiatra, não sei. Tá foda."

"Você já percebeu que só consegue ficar bem quando você tá bem com ela? E quando vocês brigam você fica péssima?"

"Alguém tem que ser a mártir, odeio isso. Ela me tratou hoje como se ela fosse a coitadinha da história, a vítima que quer que eu fique bem. Que porra! Sou eu que tô fudida psicologicamente, não ela."

"E amanhã?"

Recado.

sábado, junho 24, 2006

Se não é pra ajudar, não atrapalha.

Que direito você tem de ser fria comigo enquanto diz que me quer bem?

O que conta, no final, são as ações, e não o discurso. Demorei pra entender isso, mas agora as coisas são mais claras. Bem mais claras.

Seu discurso de perfeição não me engana mais. Por que acreditar que tudo é lindo e maravilhoso se eu sou tratada desse jeito? Se eu sempre fui tratada como algo vergonhoso, sujo, que deveria ser escondido?

Chega de me sentir mal...

Jogo do Brasil

sexta-feira, junho 23, 2006

Brasil x Japão =



Casa do Igor + muita gente + churrasco + ar condicionado + persiana + posição estratégica entre Igor e Rodrigo + "Como assim você me liga na hora do jogo???" + adrenalina + todos os xingamentos + muitos gritos + Mussolini gay + taquicardia + 2 L de Pepsi Twist Light + 1 latinha de Bohemia + Jazz + Natalie Cole + Ella + Dança + Vista maravilhosa (viva Roriz) + Piada do Thyrso + "Pessoas, to indo!"

Há tão pouca Águeda nessa Águeda...

quinta-feira, junho 22, 2006

Acho que fui me distribuindo por aí. Não sei mais quem ou o que sou. Fui me entregando, me doando, me perdendo. Não tenho mais muito para dar. E, por mais que eu queira dar, é hora de me resgatar. Preciso descobrir quem eu sou, há muito tempo eu não sei...

Eu queria pedir ajuda, mas eu sei que não são as outras pessoas que vão me trazer paz. Isso é um processo que eu preciso passar sozinha... amparo não significa que outras pessoas vão viver por você. Caminhar com as próprias pernas, degrau por degrau... parece distante, muito distante, mas acho que é possível. É só ir percebendo... o que me faz bem nesse caminho? O que me faz mal? A quem eu faço bem e a quem eu faço mal? Vamos deixar tudo mais leve, eu preciso tanto ficar mais leve... eu preciso de paz.



***



Ontem eu voltei pra casa tão forte e bem... bem como eu não me sentia há muitos, muitos meses. Um peso enorme tinha sido tirado das minhas costas, eu sentia como se eu finalmente pudesse respirar. Minha respiração era grande e fácil, eu não tinha percebido o quanto ela estava apertada e pequenina. Eu ainda tinha muita coisa pra chorar, mas eu conseguia ficar em pé. Eu conseguia manter os olhos bem abertos. E foi só chegar em casa que o Leo me recepcionou... tenho certeza de que ele percebeu também. Quero voltar a me sentir assim, já fui assim um dia, posso voltar a ser. Preciso de leveza...

Gabriel Fauré

domingo, junho 18, 2006

APRÈS UN RÊVE
(Romain Bussine)

Dans un sommeil que charmait ton image
Je rêvais le bonheur, ardent mirage,
Tes yeux étaient plus doux, ta voix pure et sonore,
Tu rayonnais comme un ciel éclairé par l'aurore;

Tu m'appelais et je quittais la terre
Pour m'enfuir avec toi vers la lumière,
Les cieux pour nous entr'ouvraient leurs nues,
Splendeurs inconnues, lueurs divines entrevues,

Hélas! Hélas! triste réveil des songes
Je t'appelle, ô nuit, rends moi tes mensonges,

Reviens, reviens radieuse,
Reviens ô nuit mystérieuse!



***



AFTER A DREAM

In a slumber which held your image spellbound
I dreamt of happiness, passionate mirage,
Your eyes were softer, your voice pure and sonorous,
You shone like a sky lit up by the dawn;

You called me and I left the earth
To run away with you towards the light,
The skies opened their clouds for us,
Unknown splendours, divine flashes glimpsed,

Alas! Alas! sad awakening from dreams
I call you, O night, give me back your lies,

Return, return radiant,
Return, O mysterious night.

Feriado

quinta-feira, junho 15, 2006

Sabe o que é estranho?

É que tudo tá bem.

As coisas estão andando bem, eu me diverti ontem, tenho coisas pra fazer hoje e devo rir um bocado.

Mas eu não consigo me sentir bem. Ainda como porque sei que devo comer, e toda vez que fico sozinha me sinto triste...

Ontem na UnB foi trash. Tive uma só aula das 4 que teria, e mesmo assim não consegui ficar nela. Nunca passei por isso, e o pior é que tenho a certeza que essas oscilações ainda vão me acompanhar por algum tempo...

Quero colo...

- Não. Quero arrumar as coisas...

desastre...

terça-feira, junho 13, 2006

Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerda!!!!!!

Foi. Uma merda, mas foi. Porcaria.

Tentar pensar em outra coisa agora...

os dias continuam...

segunda-feira, junho 12, 2006

RECEITA

É só não ver
só não pensar
É só não viver
só não amar...

No final das contas, é apenas medo

domingo, junho 11, 2006

Ando cansada dessa existência...

pra que acordar? por que? por quem?

As coisas não fazem sentido. Nunca fizeram, mas um dia eu acreditei que fizessem.

Não há motivos para nada, só há o medo.



xxx



SE TE QUERES
(Fernando Pessoa)

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?

Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Estrelas

sábado, junho 10, 2006

O que eu mais gosto de chegar em casa não é a minha casa. É o que está do lado de fora, com olhos brilhantes, andar elegante e sempre desconfiado. Desconfiados, na verdade, porque são alguns, e não um. Lindos, lindos, adoro eles, e eles sempre me trazem uma sensação de paz, mesmo nos piores dias. Ou nas piores noites, como a noite que não tinha estrelas.

(Hoje tinha...)

I should be sleeping...

sexta-feira, junho 09, 2006

e pensando em inglês.

Boa sorte pra mim amanhã!

vida/morte

terça-feira, junho 06, 2006

CADA UM
(Fernando Pessoa)

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,

E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.



***



Não quero fazer minha prova... quero descansar.

Fechado.

sexta-feira, maio 19, 2006

Sol em conjunção com Urano no mapa composto

domingo, maio 14, 2006

"This relationship will challenge the very core of your beings. All your ideas about yourselves and how you fit into other people's lives, as well as life in general, will be tested very severely. If you are strong and secure in yourselves, you both will learn a tremendous amount through this relationship.

Do not expect this relationship to follow any particular established patterns, for you will define for yourselves new behavior patterns that fit only the two of you."



Isso me guia há tanto tempo...



(Amo e quero bem. Sempre. E para sempre presente em minha vida.)

Sábado com cara de sábado

sábado, maio 13, 2006

Mais ou menos assim, aquela rotina legal.

Dia bom...

[Quero meu DVD!]

A suposta existência

sexta-feira, maio 05, 2006

Como eu sei que estou viva?

Na verdade não sei. Não tem como saber. A gente só chama essa existência aqui de vida. Aliás, nem sei se é "a gente", o mundo todo pode ser uma criação minha, e apenas minha. Ou então eu sou um personagem de um livro, e a criança que tá lendo pode cansar de ler a qualquer instante, e plim! Eu, e você, a internet, as árvores e a camada de ozônio desaparecem.

Qual será a sensação de desaparecer? Será que é como morrer? Você não deve sentir nada. Talvez você já tenha morrido muitas vezes durante sua vida. De reprente a criança já fechou o livro e já voltou a ler inúmeras vezes, mas não tem como a gente saber, porque a gente simplesmente deixa de existir, não há consciência para saber, não há dor para sentir. Ou então a gente morre toda vez que dorme, e outras Águedas e Mayras e Henriques e Lobos acordam em um universo paralelo, e quando eles dormem a gente acorda, e claro que o tempo passa diferente. E pode ser também que cada vez que a gente pisca todo um universo nasce e morre, o tempo não é assim como a gente acha. Podemos ser gigantes. Ou formigas. Ou pedaços de energia e informação, matrix, ilusão. Nada.



***



Tive sonhos estranho, de novo. Muita água e sempre presente a morte, e com ela ilusão, apego, solidão, dor. Acho que os sonhos querem me dizer alguma coisa que eu finjo não entender.

De novo, dessa vez mais forte.

quinta-feira, maio 04, 2006

Cansada.

Na verdade, morta.

Crise de novo. Até já enchi o saco de falar sobre isso. Mas dessa vez foi foda...

Eu não tenho para onde ir. Se não for Música, não tem o que ser. Ao menos uma certeza eu já tenho...

Será que eu agüento o que tem por vir? Não tenho idéia. E eu tenho um semestre pra descobrir/decidir se eu consigo passar por isso ou não.

Eu sei que não quero... mas o que será que pesa mais nessa balança?

Não quero pensar que perdi tempo, que poderia ter mudado de opção há muito tempo, isso só me deprime. Aaaaaaaaaaah! Como decidir? Que ódio! Tá tudo errado. O que eu tô fazendo lá?

Mas se não for isso vai ser o que? Bacharel em piano? Eu agüento os 7 níveis de piano + estágio?

Não sei mais de nada... estou até pensando em ir pra Belém terminar o curso em um lugar menos "estamos aqui para formar educadores musicais freirianos, dialógicos e emancipadores".

...

Monstro

terça-feira, maio 02, 2006

Pode me chamar assim. Vai ser verdadeiro.

Eu sou tudo o que dizem e muito pior.

Por isso me saboto, me machuco, me queimo, pra ver se a nova carne vem melhor.

Mas nunca vem.

Ela é sempre cruel, vingativa, mesquinha, egoísta.

O problema não está na carne.

O problema é o espírito.

E o espírito não muda. Nunca mudou. Sempre volta para o que era antes. Cruel, vingativo, mesquinho, egoísta. E todos os nomes que você quiser chamar. Vai ser verdadeiro. Monstro.

Agora eu tenho um registro das minhas faltas!

quarta-feira, abril 26, 2006

Quarta-feira sem Antropologia da Arte é quarta-feira sem UnB.

Os sonhos foram ruins, mas todo o resto foi muito bom.

E as crianças tocam Summertime.

Incrível!



***



(Melhoras procê...)

Guia

terça-feira, abril 25, 2006

Águedas são bichinhos muito raros. Se você encontrar uma, pense bem antes de adotá-la: elas dão trabalho e, se não forem bem educadas, podem ser muito críticas, orgulhosas e irritantes. Agora, se você estiver disposto a ter como companhia um ser artístico, carinhoso, sensível e extremamente fiel, leia o guia abaixo.



1. Quando uma Águeda diz que não quer fazer alguma coisa, não insista. Elas são muito teimosas e costumam ficar chatas, resmungonas e mal-humoradas.

2. As Águedas são gulosas, o que não significa que elas sempre sabem o que querem comer. Preste atenção na sua Águeda e veja o que ela parece mais inclinada a comer no momento. Se ela não quiser tomar café da manhã, almoçar ou jantar, veja se ela está comendo besteira fora de hora ou se ela enjoou da comida de casa (é comum).

3. As Águedas não agüentam rotina por muito tempo. Aproveite os finais de semana para fazer programas variados, mesmo que seja ficar em casa assistindo DVD. Águedas também costumam adorar surpresas.

4. É muito freqüente as Águedas ficarem frustradas quando os planos delas dão errado, mesmo que o plano seja "ir para a aula hoje". Não há muito a se fazer quando isso acontece, apenas mudar o foco da conversa para outra coisa.

5. Águedas odeiam coisas pela metade. Nunca deixe uma conversa inacabada nem tente convencê-la de fazer trabalhos de pouquinho. Águedas não são nada disciplinadas e precisam de energia e pressão para fazer tudo de uma só vez.

6. Todas as Águedas são carentes. Muito. Demonstre o que você sente pela sua. Já foram relatados casos de Águedas que destruiram o trabalho dos donos só para receber carinho e atenção. Estar ao lado de uma Águeda sem fazer nada *não é* dar carinho e atenção, a não ser num dia excepcional, como um domingo ao lado da piscina.

7. As Águedas são seres muito higiênicos e odeiam se sentir sujas. Se uma Águeda acha que está com o cabelo oleoso, nada irá convencê-la de ir para a aula. Ela ficará em casa para tomar banho.

8. Águedas tristes e em crise podem ser insuportavelmente falantes, choronas e repetitivas. Se você não tem paciência para lidar com os picos de humor, encaminhe sua Águeda para alguém que esteja disposto a ouvir o que ela tem a dizer.

9. Você não vai conseguir nada de uma Águeda sendo rude ou grosseiro. Educação e sensibilidade são essenciais, sempre.

10. Águedas precisam de momentos de epifania cíclicos. Não diminua nem desconsidere suas experiências místicas/religiosas - elas são muito importantes para o desenvolvimento saudável da Águeda.



Enfim, proporcione um ambiente agradável, carinhoso e sensível para sua Águeda. Também cuide para que ela durma em quartos aconchegantes e limpos e para que tenha uma alimentação que a agrade. Assim sua Águeda crescerá feliz e desenvolverá todo seu potencial artístico-intelectual-religioso-pessoal, tornando-se no futuro uma companhia equilibrada, carinhosa, dedicada, fiel, corajosa, sensata e amorosa.

Amo essa música! Harmonia linda...

domingo, abril 23, 2006

ELA VAI VOLTAR
(Charlie Brown Jr.)

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz
Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar
(2x)Mas ela vai voltar

Ela não é o tipo de mulher que se entrega na primeira
Mas melhora na segunda e o paraíso é na terceira
Ela tem força, ela tem sensibilidade, ela é guerreira
Ela é uma deusa, ela é mulher de verdade
Ela é daquelas que tu gosta na primeira
Se apaixona na segunda e perde a linha na terceira
Ela é discreta e cultua bons livros
E ama os animais, tá ligado eu sou o bicho

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz
Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar
(2x)Mas ela vai voltar

Deixa eu te levar pra ver o mundo baby
Deixa eu te mostrar o melhor que eu posso ser(2x)

Fazer da vida o que melhor possa ser
Traçar um rumo novo em direção ao sol
Me sinto muito bem
Quando vejo o pôr-do-sol
Só pra fazer nascer a lua

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz
Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar
(2x)Mas ela vai voltar

Pegando o ritmo

quinta-feira, abril 20, 2006

Nhaaaaa!! Nem queria 28 créditos... nem tava feliz com eles mesmo! 24 tá bom, pelo menos eu não fico louca. Bolas. Porcaria. Não é como se eu tivesse esperando por 5 semestre pra pegar Regência, que é isso. Pffff, imagina! Quem ficaria tanto tempo esperando? E conhecendo o departamento de música, quem ficaria feliz ao pegar a tão esperada matéria? Sempre tem algum problema, algo atravancando o caminho. Porcaria. Droga.

Sem Regência 1 esse semestre. Ódio.



Faz muito tempo que eu não posto música. Cranberries.


I STILL DO
(Cranberries)

I'm not ready for this
though I thought I would be
I can't see the future
though I thought I could see
I don't want to leave you
even though I have to
I don't want to love you
(Oh, I still do...)

Need some time to find myself
You wouldn't live with it
Can I go my own way?
Can I pray my own way?
I don't want to leave you
Oh, I need you

Am I ready for this?
Did I think I would be?
Can I see the future?
No, I can't see

I don't want to leave you
Even though I have to
I don't want to love you
(Oh, I still do...)

Vinho

quarta-feira, abril 19, 2006

Eu to cansada, cansada, cansada, cansada, cansada... Muito, muito cansada. Mas agora estou melhor. De qualquer maneira, vou dormir cedo hoje. Amanhã o dia é longo de novo...



(Obrigada por tudo hoje... e por tudo sempre, por todas as coisas que eu não agradeci e que eu ainda quero conversar numa tarde contigo, só pra relembrar todas as coisas legais. Porque elas existem aos montes, ao contrário de tudo que eu possa ter dito nos meus piores momentos. Aliás, desconsidera eles. Considera isso aqui: obrigada. Muito. Por tudo. Por muito mais do que possas querer imaginar. És muito importante pra mim. 20.1.)

Coça, coça

Comprovado.

Eu sou um ser curioso.

Tipo um gatinho, sabe?

Só que nem sempre tão ingênuo.

Não vou fazer isso, não vou, não vou.

Post duplo (2a vez)

domingo, abril 16, 2006

Ou então a gente resolve admitir o que sente e tenta recomeçar.

Mais leve...

vazio transbordando, água

Por que essa sensação de vazio?

Por que essa tristeza?

Eu sinto como se fosse um esforço descomunal. Cansa, dói.

Se eu fico longe melhora. Não penso. Não tenho a realidade jogada na minha cara.

Os sentimentos me tomam por completo, me inundam. Não consigo controlar. Tudo aflora.

E assim eu choro.

Fim de ciclo

sexta-feira, abril 14, 2006

A viagem está chegando ao fim, e eu posso não falar sobre ela? Quero resumir com "foi tudo ótimo, adorei a semana, era tudo que eu precisava". Fui a museus, boates, concerto, show, comprei roupas, conheci gente, fui atacada por um cachorro, enfim, foi bom.

Posso não falar sobre surtos? Eu juro que eles foram bons. Não na hora, claro. Mas foi melhor desse jeito.

Ainda me sinto muito dividida entre racional e passional. Por isso piro às vezes. Dessa vez olhei pra trás e não entendi nada, nada, nada mesmo. Isso me deixou preocupada... preciso ocupar minha mente, me distanciar disso que tanto me faz mal. O que, na verdade, sou eu mesma.

Eu sei que tudo foi muito bom aqui e valeu a pena. A cabeça ainda tá louca, mas devagarinho ela volta pro lugar - sim, já existiu esse equilíbrio! Eu só quero agora voltar pra casa, brincar com meus gatos e pensar no semestre que tá começando. Quero fazer tudo direito, tá na hora já, essa é a reta final. E olha só, volto no sábado. Sabe o que isso significa? Que domingo tem Barulho!

em São Paulo

domingo, abril 09, 2006

Mundo louco, louco.

Viagem decidida com menos de 24hrs de antecedência.

E a ansiedade é mais forte agora do que quando pulei do morro de sei lá quantos metros.

Estou bem agora.

É engraçado, cada vez mais eu percebo que sou o que eu sou.

E, apesar de tudo estar mais tranqüilo agora, toda vez que olho pra ela eu fico inquieta.

O sentimento tá diferente.

Mas ela é tão linda...

Medo, não quero mais ter medo.

sábado, abril 08, 2006

Já perdi o controle de tudo.

Extremos, extremos. Eu não percebo como chego neles. Só vejo quando estou.

Já tentaram correr de olhos fechados?



***



Amanhã estou viajando de novo. Desejem-me boa viagem.

Se ajuda a compreender o sentimento

quarta-feira, março 29, 2006

Eu na terapia cerca de 1 mês atrás:

Psicóloga: Se esse fim de semana, você fosse para uma festa, e se interessasse por alguém lá, você ficaria com a pessoa?
Eu: Não.

Psi: Por que? Vocês não terminaram?
Eu: Porque eu ainda me sinto comprometida, o pacto de fidelidade ainda tá aí, o compromisso tá todo aí. E eu sei que ela ficaria péssima, é uma coisa que eu tenho certeza, ela é muito traumatizada com isso, eu não faria isso com ela nunca.

Psi: E ela? Você acha que ela ficaria com alguém?
Eu: Não. Tenho certeza que não. Ela sempre teve isso muito certo pra ela, ela é ética demais pra fazer uma coisa dessas tão cedo, teria que ser discutido e conversado antes. Eu sei que ela não ficaria com ninguém.

Psi: Hm... complicado, né? Pacto de fidelidade sem namoro... quanto tempo será que isso dura?



***



Por que eu me sinto como ela em 2004?

Confiança quebrada...

Chorando a noite inteira.

terça-feira, março 28, 2006

Confiei demais em promessas difíceis de se manter.
Acreditei cegamente em algo que não pode ser controlado.
"É assim que as pessoas acabam ficando com outras em fins de namoro", eu cheguei a dizer no telefone.
Elas não fazem por sacanagem.
Elas estão sensíveis, tristes, precisam de carinho.
É assim que acontece.
So what difference does it make?

Dois pesos, duas medidas.
É como eu me sinto.
Se fosse o contrário, como você estaria se sentindo?

E tudo aquilo que eu acreditei, está onde?
Todas as verdades que eu comprei - e que não eram as minhas -
o que eu faço com elas agora?
Jogo no lixo e volto a ser a Águeda que eu era antes de te conhecer?
Eu não quero isso...
Eu sei que mudei muito para melhor contigo.
Quero acreditar que o teu mundo é possível.
Mas como eu posso acreditar nisso
se as leis não se aplicam do mesmo modo para mim e para ti?

Por que é diferente?
Só quero que me respondas isso.
Porque, ao meu ver, não é.

Segundo a minha lógica anterior, não tenho direito de me sentir mal.
Quando terminei o namoro abdiquei de todos os direitos, inclusive esse.
Essa lógica antiga é que ainda me deixa com os pés no chão.
Se não fosse por ela, acho que eu já teria outras feridas por cicatrizar.

Louise

terça-feira, março 07, 2006

Não sei por onde começar. A história na verdade não tem começo, eu tenho para mim inclusive que ela nem começa, ela só é. Talvez se inicie na pré-adolescência, quem sabe na infância, ou ainda (é possível) numa sessão de terapia de auto-conhecimento. Não sei onde, quando, porquê. Sei que, se é pra começar de algum lugar, eu começo dizendo que gosto de gatos.

Eu nunca pude ter um gato em casa, então me acostumei a ficar admirando os bichanos de longe. Tinha medo de chegar perto, achava que eles eram criaturas instáveis, poderiam me arranhar, machucar. Mas sempre os achei lindos, e criei uma certa identificação com eles. A destreza, a desconfiança, o andar felino, os olhos que parecem atravessar sua alma. E ainda tem todas as lendas e mitos sobre gatos, e a enorme conexão com magia. A ligação com o mundo do éter, do intuitivo, do inconsciente, da sabedoria profunda, dos medos, dos mortos, de Perséfone. É, eu tinha muita coisa em comum com os gatos, embora só eu soubesse - ou melhor, nem eu soubesse.

Agora registro meu marco temporal, apesar de esse marco ser fluido. Um dia algo aconteceu. Simples assim, mas tão mais complexo do que isso, pois era uma rede de vivências e paixões, não aconteceu algo em um dia, aconteceram vários algos em muitos dias de minha vida que culminaram nesse dia sobre o qual vos falo agora. Peço desculpas pela prolixidade, mas apenas tento passar minhas sensações mais verdadeiras sobre o ocorrido: não foi em um dia que aconteceu, foi em muitos, o tempo não é nada nessas horas de epifania, gosto dessa palavra, epifania. Nesse dia, olhe só, eu vi um gato morto.

O que há de novo em ver um bicho morto nas ruas da cidade?, vocês podem questionar. Nada, eu responderia. Nada. Mas Vinícius me vem à cabeça, "nada parece mais com o fim de tudo que um gato morto", e acho que naquele dia, que não foi um, foram vários, eu compreendi esse soneto, por sinal, o soneto com a chave de ouro mais dura que eu conheço, não que eu conheça muitos, mas enfim. O gato estava lá, no chão, no meio da rua, tinha sido atropelado, os olhos saltados, o corpinho amassado, deformado, grudado ao asfalto, sangue por toda a parte. Nó na garganta. Queria chorar, não entendia por que, o gato nem era meu, e ainda por cima era um gato! Logo eu, que tinha aprendido desde cedo, como uma boa criança de classe média, a olhar para o outro lado quando uma pessoa morria de fome ao meu lado na rua, agora submergia em mim tentando manter a postura firme, não vou chorar, não sou louca, não há motivo.

xxx

Onze da noite, está na hora. Os gatos devem estar esperando, eles agora esperam por mim embaixo dos carros aqui na frente de casa, há vários gatos de rua aqui pelo conjunto, eles hoje não precisam revirar o lixo. É difícil ganhar a confiança deles, eles são ariscos, mas quando estou sozinha com eles me sinto plena, como se tudo estivesse no seu devido lugar, e eu fosse mais um espírito de gato no mundo, eles que ainda não perceberam. Divido minhas tristezas e paixões com eles, finalmente sinto como se alguém estivesse cuidando de mim, estou protegida - provavelmente uma inversão de valores, considerando que os gatos nem chegam muito perto de mim, mas quem espera sanidade de alguém que chorou ao ver um gato morto? Um deles parece demonstrar mais confiança, ou quem sabe ingenuidade, não deve estar há muito tempo nas ruas até porque parece ser filhote, lindo, todo tigradinho, acinzentado. Mais tarde descobri ser uma menina, e a batizei para mim mesma de Louise.

xxx

A vida não se dá em ciclos, pois ela é uma face desse ciclo, é a Existência que se dá em ciclos de vida e morte, ou a Não-Existência, dependendo do ângulo que você olha, afinal, elas também se dão em ciclos. É tudo uma grande espiral, e nessa espiral os momentos se repetem, às vezes repetições tão diferentes entre si que somos incapazes de perceber a semelhança, às vezes cruelmente similares, como se surgissem para te testar, é a Roda da Fortuna, hoje é seu dia de azar, "o Fortuna, velut luna, statu variabilis".

Nesse dia, que também foram vários dias, mas que no calendário corrente foi apenas um dia, e bem distante daquele primeiríssimo, vi um gato morto. Não deveria ser outro dia, por favor, diga que o tempo está voltando, isso não aconteceu, eu já passei por isso! Mas não por um gato que você tem afeto, replicaria a Fortuna, se eu pudesse entendê-la. O gato estava molhado, jogado numa vala no canto da rua, chovia de leve, seu peito parecia estar aberto e ele sangrava na cabeça e no peito, era apenas um filhotinho, provavelmente atropelado, será que o motorista chegou a perceber o que fez? Parei o carro ao seu lado, fiquei olhando estática, aquela cena me doía mas eu precisava dela, eu tinha que ver, era meu filho, queria abraçá-lo, mas minha loucura ainda não havia chegado àquele ponto, as lágrimas caíam e eu não queria sair daquele lugar, eu não queria abandonar o gato, apesar de eu saber que não tinha mais o que ser abandonado, ele era só corpo, a chuva caía e ele nem piscava, não havia mais vida alguma ali.

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Esperei naquela noite, ainda tinha alguma fé, afinal, dizem que os gatos têm 7 vidas, isso quando não dizem que eles têm 9, por favor, que tenha sido outro gato, e ao mesmo tempo me corroía por ser egoísta a esse ponto, um gato é um gato, não importa se ele é mais próximo de você ou não, nenhum merece morrer daquele jeito. Eu já sabia, na verdade eu soube quando eu vi, mas eu não quis admitir, falei que não sabia, todos os gatinhos se parecem tanto, pode não ter sido o meu, mas era. Os gatinhos pretos chegaram para comer, o tigradinho adulto também, mas Louise, que sempre era a primeira a me acompanhar e aceitava todos os meus carinhos sem reclamar, nunca apareceu de novo. Naquele noite, eu chorei do mesmo modo que havia chorado para Louise quando minha vida parecia se desintegrar, ela não entendia nada, mas ficava olhando, curiosa. Dessa vez ela não poderia me olhar daquela maneira, ela estava lá, sendo devorada por insetos do outro lado da rua, e ninguém fazia nada, não havia nada a ser feito, a não ser chorar a morte de apenas mais um gato de rua.

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sábado, fevereiro 04, 2006

Já que eu já to aqui mesmo...

festa hoje, desanimo forever. não pra festa, mas pra tudo mesmo. sei lá. o de sempre, ou não. deixa eu repetir o prelúdio e allegro do kreisler aqui.

Quem diria que me faria bem.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

E não é que uma "semana para pensar" está me fazendo bem?

Não é nem que eu esteja organizando as minhas coisas, afinal, eu não estudei para a minha prova de amanhã nem fiz o fichamento. Mas andei encontrando coisas que me fazem tão bem...

Essa semana fui pra aula de tecido (circo, não tear!) e foi incrível!! Incrível mesmo... pensem nesse incrível vindo de alguém que nunca participou de uma aula de ed. física na vida, odeia atividades físicas, morre de medo de altura, é travadíssima e não conseguiu fazer nada na primeira aula. Dá pra ter uma idéia? Me cativou muito. Sei lá, me deu ânimo, vida, energia. Vontade de superar meus limites tão pequeninos (e os grandes também, afinal, quem vai me dizer que medo de altura é algo pequeno?) Muito bom. E ainda estou levando um bolinho de gente comigo nessa... hehe

Também andei dando uma de Paulie* e resolvi cuidar de gatinhos. Só a Thaís pra me acompanhar nessa! Compramos ração, pratinhos e colocamos comida e água escondidinhos no canteiro da frente aqui de casa. Ainda fizemos um caminho de ração até o meio da rua pros gatinhos acharem! Fiquei morrendo de medo de acordar no outro dia e eles não terem comido. Mas, 7:45 da manhã dessa terça-feira, lá estava o prato de ração vaziozinho. Yay!!

Hoje ainda teve mais bichinho no dia. Fui visitar o Baco. Tãããão fofo, tão desesperado, tadinho! Vai ter um treco quando a família voltar de viagem. Me arranhou e me lambeu toda, e ainda me escalou como um gato. Tô dizendo que aquilo não é cachorro, mas não acreditam...!

(E hoje eu ainda vi o gatinho preto correndo pela rua em direção ao meu canteiro logo que eu deixei a comida lá. Tá certo que eu nem vi se ele estava indo mesmo para lá, nem se ele chegou a comer qualquer coisa, mas me deu uma felicidade...!)

E, ainda hoje, consegui conversar com quem eu queria, me senti feliz na monitoria, saí com amigas e comi besteira. Ah, e a Lua estava linda. Dia bom. =)



* Personagem de Lost and Delirious (Assunto de Meninas) que resolve cuidar de um gavião machucado.

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segunda-feira, janeiro 09, 2006

meio triste.

 
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